Em uma viagem ao Líbano, Leila conheceu o prefeito de Bhandun e ele atestou que “só tinha Kairalla na cidade”, ou seja, não teria “mistura” com outras famílias e quase todos os moradores poderiam ser parentes. Na cidade, todos os profissionais são Kairalla. De acordo com seu pai Tufik, todos os Kairalla saíram de Bhandun e se espalharam pelo Líbano, e posteriormente pelo mundo: Estados Unidos, Canadá, México, e pela Europa.

Leila conta que quando chegavam no Brasil, os imigrantes tinham que aumentar a data de nascimento do registro, como poderia ter acontecido com seu avô Simão Kairalla. Verificando os documentos de seu pai Tufik Kairalla no Líbano, ele constava como nascido em 1910, mas quando chegou ao Brasil, no registro mencionava que ele havia nascido em 1914. Naquela época esses dados eram alterados para que os imigrantes pudessem entrar com os filhos menores de idade, pois não poderiam viajar se não tivessem a data de nascimento adequada.

Um dado curioso sobre a Família Kairalla pode ser facilmente encontrado na internet. Ao fazer uma pesquisa sobre a cidade de Bhandun, a família que encabeça a lista de famílias notáveis da cidade é exatamente a Kairalla, com suas diversas formas de grafia. A alteração na grafia provavelmente ocorreu porque ao chegar ao Porto de Santos, os imigrantes não sabiam pronunciar corretamente seu sobrenome, e como as pessoas no Porto não entendiam muito do idioma árabe, escreviam os nomes e sobrenomes a partir do que conseguiam ouvir. Assim, a grafia do sobrenome do pai de Lelia é Kairalla, e a do sobrenome de sua tia, irmã de seu pai, é Khairallah. Como os documentos vinham escritos em árabe, não eram muito fácil de entender!

Em 2004, em sua viagem ao Líbano para conhecer Hasbaya, a cidade de seu pai, Leila passou o dia com a irmã de seu pai, a única sobrevivente. Foi um dia de muita emoção para ambas, pois foi a última vez em que se viram. A partir daí, Leila ficou muito mais interessada em conhecer a “raiz” de sua família, o lugar para o qual seu pai, por motivo não conhecido, não quis mais voltar.

Seu pai falava muito de sua terra de origem e Leila foi a primeira da família a ir conhecer a cidade. Após essa visita, Leila conversou com um primo e este lhe mostrou a antiga chácara (bisten) de azeitonas que a família possuía. De volta ao Brasil, Leila começou a buscar informações sobre a chácara, pois seus avós tinham algumas pequenas chácaras em Hasbaya. Para tanto, Leila precisou registrar o casamento de seus pais e o nascimento de cada filho, pois no Líbano, primeiramente é feito o registro familiar, para resolver divergências de data de nascimento, uma vez que no Líbano constava 1910 e no Brasil, 1914. O próprio Consulado acertou a certidão de casamento e todos os registros de nascimento, de seu pai e de todos os filhos dele. Leila é a única descendente naturalizada e possui seu registro individual.

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